Ao derrube do Presidente Ben Ali já se chamou "revolução Facebook", "revolta Twitter" e até "a primeira revolução WikiLeaks".
As redes sociais ajudaram. A WikiLeaks terá tido um pequeno papel, com telegramas a mostrarem que não eram só os tunisinos que viam a família Ben Ali como uma máfia - os norte-americanos também. Mas a "velha" Al-Jazira teve um papel fundamental, difundindo para as massas aquilo que os ciberactivistas publicavam na Web.
"O Facebook é fantástico e nunca esqueceremos o que a Al-Jazira fez", escreveu no site da BBC Zouhair Ben Jemaa, um consultor reformado de Tunes. O que desencadeou os protestos foi a imolação pelo fogo do jovem Mohamed Bouazizi. E foram os tunisinos, internautas ou não, quem recusou sair da rua, mesmo quando a polícia disparava a matar. Os partidos da oposição, pouco representativos, e o sindicato único, estiveram com eles. As redes sociais foram "a caixa de ressonância" da sua contestação, descreveu Pierre Haski, no site rue89.
Mais do que tele-visionada, a "revolução na Tunísia foi twittada". A ideia no título do artigo de Firas Alatraqchi, professor de Jornalismo no Cairo, é repetida por muitos. "O Twitter e o Facebook já eram o meio de contornar a censura. Mas isso ganhou uma amplitude inesperada. A informação multiplicou-se. E o extraordinário é que pessoas que não eram militantes entraram na dança, substituindo a sua foto de perfil no Facebook pela bandeira de luto ou ensanguentada. São coisas dessas que dão esperança aos que se estão a manifestar", disse à AFP a historiadora Leyla Dakhli, especialista em media árabes.
A Tunísia é o mais internauta dos países do Magrebe. Mais de 34 por cento dos 10 milhões de tunisinos estão online e, destes, quase dois milhões usam o Facebook. O oposto da moeda é que o regime se especializou na censura, desenvolvendo uma firewall eficaz e identificando e prendendo bloggers. Os Repórteres Sem Fronteiras consideram o país como um dos dez inimigos da Internet.
Claro que, com tanta eficácia do lado do regime, também os activistas se tornam peritos em contornar a censura, utilizando proxies, que permitem esconder a origem de uma ligação. Sites como o Nawaat.org, que existe desde 2004, profissionalizaram-se, e para publicar os telegramas da WikiLeaks, por exemplo, desenvolveram "um sistema quase à prova de censura, a não ser que fechassem o Google e a Internet na Tunísia", explicou ao "Le Monde" um dos administradores.
Sem redes sociais, dificilmente o suicídio-protesto do jovem vendedor ambulante teria tido tanto impacto. Face ao silêncio dos media tradicionais, houve bloggers a viajar pelo país a filmar polícias a disparar contra manifestantes e a divulgar esses vídeos no YouTube e no Dailymotion, enquanto usavam o Twitter para dar conta de mais um protesto, de mais um morto. Outros organizavam essa informação no Facebook.
Tunisinos a viver em Portugal disseram ao PÚBLICO que acompanhavam os acontecimentos via Facebook e Twitter, mas explicaram que os tunisinos com que falavam no seu país sabiam menos do que eles. E é aí que entra a Al-Jazira. "Sem os novos media sociais, as imagens extraordinárias dos manifestantes poderiam nunca ter furado a manta de repressão - mas foi a difusão desses vídeos na Al-Jazira, mesmo depois de o seu escritório ter sido encerrado, que levou essas imagens ao público árabe e a muitos tunisinos que, de outra forma, poderiam não ter percebido o que estava a acontecer no seu país", escreve Mark Lynch na "Foreign Policy".
A Al-Jazira aprendeu a incorporar o que é produzido nos media sociais. É assim que consegue trabalhar nos paí-ses em que vai sendo proibida. Lynch chama a esta conjugação de esforços "a última fase da revolução mediática no mundo árabe", uma revolução que contorna a censura e constrói uma nova narrativa. S.L.
"O Facebook é fantástico e nunca esqueceremos o que a Al-Jazira fez", escreveu no site da BBC Zouhair Ben Jemaa, um consultor reformado de Tunes. O que desencadeou os protestos foi a imolação pelo fogo do jovem Mohamed Bouazizi. E foram os tunisinos, internautas ou não, quem recusou sair da rua, mesmo quando a polícia disparava a matar. Os partidos da oposição, pouco representativos, e o sindicato único, estiveram com eles. As redes sociais foram "a caixa de ressonância" da sua contestação, descreveu Pierre Haski, no site rue89.
Mais do que tele-visionada, a "revolução na Tunísia foi twittada". A ideia no título do artigo de Firas Alatraqchi, professor de Jornalismo no Cairo, é repetida por muitos. "O Twitter e o Facebook já eram o meio de contornar a censura. Mas isso ganhou uma amplitude inesperada. A informação multiplicou-se. E o extraordinário é que pessoas que não eram militantes entraram na dança, substituindo a sua foto de perfil no Facebook pela bandeira de luto ou ensanguentada. São coisas dessas que dão esperança aos que se estão a manifestar", disse à AFP a historiadora Leyla Dakhli, especialista em media árabes.
A Tunísia é o mais internauta dos países do Magrebe. Mais de 34 por cento dos 10 milhões de tunisinos estão online e, destes, quase dois milhões usam o Facebook. O oposto da moeda é que o regime se especializou na censura, desenvolvendo uma firewall eficaz e identificando e prendendo bloggers. Os Repórteres Sem Fronteiras consideram o país como um dos dez inimigos da Internet.
Claro que, com tanta eficácia do lado do regime, também os activistas se tornam peritos em contornar a censura, utilizando proxies, que permitem esconder a origem de uma ligação. Sites como o Nawaat.org, que existe desde 2004, profissionalizaram-se, e para publicar os telegramas da WikiLeaks, por exemplo, desenvolveram "um sistema quase à prova de censura, a não ser que fechassem o Google e a Internet na Tunísia", explicou ao "Le Monde" um dos administradores.
Sem redes sociais, dificilmente o suicídio-protesto do jovem vendedor ambulante teria tido tanto impacto. Face ao silêncio dos media tradicionais, houve bloggers a viajar pelo país a filmar polícias a disparar contra manifestantes e a divulgar esses vídeos no YouTube e no Dailymotion, enquanto usavam o Twitter para dar conta de mais um protesto, de mais um morto. Outros organizavam essa informação no Facebook.
Tunisinos a viver em Portugal disseram ao PÚBLICO que acompanhavam os acontecimentos via Facebook e Twitter, mas explicaram que os tunisinos com que falavam no seu país sabiam menos do que eles. E é aí que entra a Al-Jazira. "Sem os novos media sociais, as imagens extraordinárias dos manifestantes poderiam nunca ter furado a manta de repressão - mas foi a difusão desses vídeos na Al-Jazira, mesmo depois de o seu escritório ter sido encerrado, que levou essas imagens ao público árabe e a muitos tunisinos que, de outra forma, poderiam não ter percebido o que estava a acontecer no seu país", escreve Mark Lynch na "Foreign Policy".
A Al-Jazira aprendeu a incorporar o que é produzido nos media sociais. É assim que consegue trabalhar nos paí-ses em que vai sendo proibida. Lynch chama a esta conjugação de esforços "a última fase da revolução mediática no mundo árabe", uma revolução que contorna a censura e constrói uma nova narrativa. S.L.
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